quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Pequeno Príncipe e a noção de Pegada Ecológica

A proposta de nosso grupo como atividade interdisciplinar deveria relacionar quatro disciplinas que, a primeira vista, poderiam ser vistas como instransponíveis no sentido de relação. Física, Letras, Biologia e Ciências Sociais se agruparam para a elaboração de um projeto que as contemplasse em sua totalidade, ou seja, não explorasse somente os lugares comuns delas. Precisavamos amarrar a proposta em um todo bem definido que as fizesse girar, as gurias da Letras surgiram primeiramente com Kafka e depois, em consenso, trouxeram 'O Pequeno Príncipe', excelente escolha. Nunca havia lido. Ronaldo, da Biologia, recomendou a Pegada Ecológica como atividade possível, fácil de contemplar todas as disciplinas, bastante interativa e 'amarrável' com o Princípe. Tínhamos o esqueleto da atividade que foi se desenvolvendo primeiro individualmente e depois como um todo, o produto foi a apresentação. 
Por ser da área de humanas, da Sociologia, enxergo no processo, mais do que no resultado, o valor de uma pesquisa, de uma proposta ou de um fato, não podemos deslocar nada da realidade com uma frieza objetiva. A sociologia não é, como muitos tentaram afirmar, uma ciência dura, objetiva, estatística, ou, ao menos, não somente assim. Depois de ler 'O Pequeno Príncipe' as coisas ficaram ainda mais claras pra mim, ao menos nesse sentido. A beleza do livro esta na sua simplicidade que não é simplória. Nas suas pretenções, tão sutis e imperceptíveis, que não são pretenciosas, Antoine Saint-Exupéry não nos mostra o objetivo, o resultado, mas, com certeza, nos mostra algo que, na minha opinião, sublima-se em um caminho. O belo final, a morte que não é morte, o caráter forte e sincero do pequenino que me lembrou o Ingênuo, de Voltaire, nos fazem viver aquele momento de leitura. Promove em nós um deslocamento da realidade que, ao mesmo tempo que intenso, é capaz de extirpar um pouco daquele caráter de rapidez e produtividade que caracteriza nossa Era. A pegada ecológica, ao contrário, ou talvez da mesma forma, nos joga em uma realidade de auto-questionamento, a comparação que nos choca, o impacto que nos é imputado, talvez nos façam cuidar de nossos próprios 'Baobás'. O rastro é uma parte de nós, uma parte que fica e influencia.
...

O ponto de intersecção mais claro, no meu ponto de vista, entre ‘O Pequeno Príncipe’ e a noção de pegada ecológica, pode ser expresso pela frase dita pela raposa, após explicar ao pequeno príncipe o que era “cativar”, os laços de necessidade que surgem após ela, como ação:
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Os laços são feitos e são eternos, são estes que fazem, como o Príncipe, sermos cativado por uma rosa em meio a tantas outras. A pegada ecológica é somente o produto disto. A noção de pegada, de rastro, que deixamos no planeta a partir de nossas ações, do nosso consumo, está intrínseca ao nível de laço que enxergamos na necessidade de interação com ele. Tanto as nossas ações, como indivíduos, quanto as ações dos países, conjunturais, ou dos interesses, como agentes definitivos, estão interligados a noção que possuímos e se percebemos, ou não, o tamanho do impacto dos rastros que deixamos. Se cativamos, ou somos cativados, nossa visão é, consequentemente, diferente.
A Sociologia pode entrar nesse contexto como um parâmetro para a análise do social, ou seja, das ações, interações ou omissões entre os indivíduos enquanto seres sociais, afinal, a sociedade não é, simplesmente, a soma dos indivíduos. Conceitos de Marx como: o fetichismo de mercado (o consumo em si e a sua necessidade), quanto a mais-valia (lucro e razão de ser do Capitalismo, ou seja, razão de ser do consumo) ou a alienação (produzida a partir de um consumo em si, indiscriminado) podem ser explorados. A sua concepção de divisão do trabalho, aprofundada e modificada, por outros meios, em Durkheim: A especificidade cada vez maior no trabalho da sociedade moderna. Especificidade esta que acaba produzindo laços de dependência entre os ‘sujeitos sociais’, nós, que gera, por fim, uma noção de solidariedade. Solidariedade, é claro, ligada a necessidade.
A pegada ecológica é, neste contexto, um olhar sobre si que é possível somente a partir da compreensão de nossa responsabilidade (nossa ação como sendo coletiva, apesar de individual). A expressão: ‘Privatizamos o lucro e socializamos o prejuízo’, basta para afirmar esta máxima, ou seja, ter um olhar sobre os gráficos que atestam a diferença de rastro entre países ‘desenvolvidos’ e ‘subdesenvolvidos’ ilustram este olhar sobre si. Entretanto, o olhar e a posterior ação perante esta diferença passam por uma formação da ideia de sujeito autônomo, formado, este é o papel, por um processo educativo que saiba aliados aos impactos e as causas daquilo que cultivamos.

Um comentário:

  1. Oi Bruno,

    ficou excelente a tua reflexão! Destacas conceitos importantes e articulas os teus saberes aos dos colegas. Só senti falta nessa postagem das muitas referências que mencionas ao longo do texto. Articular tantas áreas é um desafio que o grupo venceu de forma criativa. Espero que a experiência contribua para continuares pensando a sociologia conectada com as demais áreas do conhecimento. Parabéns!
    Um carinhoso abraço!
    Profa. Nádie

    ResponderExcluir